Brasileiros viajam Estados Unidos fotografando casamentos

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Visitar os 50 estados dos Estados Unidos fotografando casamentos e registrando seus costumes, peculiaridades e curiosidades, essa é a ideia do projeto US Wedding Tour, criado pelos brasileiros Grasi Favoreto, Dani Correa e o filho Otto Favoreto, os membros do Rocker in Love. “A ideia surgiu quando estávamos no fundo do poço. É um lugar secreto onde ideias geniais habitam”, conta Grasi.

Naturais de Londrina, no Paraná, eles mudaram para os Estados Unidos há cinco anos depois de uma temporada morando em Curitiba e fotografando casamentos, negócio que também começou meio que no susto. Grasi e Dani namoravam há dois anos quando ficaram noivos. Durante os preparativos para o casamento, ficaram grávidos, o que resultou em uma mudança total de planos.

Eles deixaram seus empregos, cancelaram o casamento e tomaram coragem de abrir sua própria produtora. “Deu super certo. No ano seguinte, já estávamos em um lugar próprio e com a agenda cheia. Tão cheia que nossa vida se resumia a trabalho. Tanto que nunca tínhamos tempo para nada”, recorda.

A correria era tanta que eles só se deram conta da “armadilha” que entraram quando o próprio filho, Otto, pediu um jantar de presente de Dia das Crianças, afirma Grasi. “E não era porque ele estava com desejo de comer alguma porcaria que viu na TV. Ele pediu um jantar igual ao do Dia dos Namorados, com todos na mesa, em casa, juntos. Detalhe, ele tinha 3 anos.”

Foram três anos dedicados à construção da empresa e, depois, dois para “desconstruir”, cumprindo contratos já feitos. Nesse período, eles decidiram mudar para os Estados Unidos em busca de qualidade de vida. A mãe de Grasi mora na Flórida há quase 20 anos e a ideia era trabalhar com fotografia lá.

No primeiro ano lá, a ideia era tirar um tempo para férias e adaptação. No segundo ano, começaram a tentar entrar no mercado da Flórida, algo que notaram ser mais difícil do que imaginavam. “O terceiro ano foi de frustração, o que acabou nos levando à ideia do projeto US Wedding Tour”, explica Grasi.

Cansados, desencorajados e desmotivados, tendo feito pouquíssimos trabalhos por lá, eles já estavam repensando a decisão de mudança quando chegaram à conclusão de “sumir” do mercado na Flórida por um ano, viajando e conhecendo de perto o mundo dos casamentos personalizados que os americanos fazem.

“Montamos uma página no nosso site contando toda a ideia do projeto com vídeo, mapa e calendário (http://rockerinlove.com/us-wedding-tour). A partir daí fizemos parcerias com blogs de casamento de todo o país e passamos a fechar contratos. No início, fizemos uma rota e o plano era fazer uma sequência de casamentos seguindo um estado ao lado do outro.”

Só que os planos acabaram mudando. Começaram a receber pedidos de casamento com datas e localização totalmente fora do roteiro, o que os levou a seguir fazendo um grande “zig zag”, e a ideia inicial de encerrar o projeto em um
ano foi abortada. “Estamos seguindo para o terceiro ano”, conta Grasi.

Mas não foi essa pequena adaptação que o casal enfrentou no início. No primeiro mês de projeto, tudo que poderia dar errado, deu.

A ideia inicial era viajar em um motor home espaçoso, confortável e ainda cheio de estilo. Eles compraram e reformaram um veículo. Foram dois meses de imersão total. Mas o motor home não chegou nem a sair da garagem. “Depois de todo o trabalho da reforma, uma parede externa se abriu três dias antes da data de partida e ele está guardado na garagem até hoje”, relembra.

Saíram então para a viagem apenas com a caminhonete que puxaria o motor home. Só que ela estava com o motor fundindo. Foi um mês completando o óleo no motor a cada abastecida e até tendo que parar no acostamento algumas vezes para a reposição, o que resultou em uma infinidade de pneus furados por pregos e visitas desesperadas ao borracheiro.

Foram mais de 16 mil quilômetros rodados nessa situação. Saíram da Flórida, foram até New Orleans, Saint Louis e Califórnia, até que voltaram para a Flórida. “Dormimos em hotéis super ruins de beira de estrada e comemos mal. Estava tão preocupada que, se não fosse a anestesia de estar vendo tantos lugares de tirar o fôlego no meio disso tudo, eu tinha endoidado.”

Com uma semana para resolver o problema e voltar para o roteiro, Grasi e Dani descobriram o mundo das vans. Venderam a caminhonete pifando e compraram uma Dodge Van 2001, compacta, prática, com armários, cama, TV. “Eu e o Dani dormimos na cama no fundo e montamos uma cama para o Otto na fileira do meio.”

Perrengues no passado, o projeto só trouxe alegrias para o trio. Já são aproximadamente 60 casamentos em 41 estados diferentes contando os contratos já fechados para 2017. “Alguns estados fizemos mais que um casamento, até porque os casamentos foram totalmente diferentes uns dos outros. Estamos na reta final. Faltam só nove, mas já estivemos em todos os estados, com exceção do Alaska”, diz Grasi.

Os casamentos são selecionados primeiramente levando em conta a possibilidade de a família estar na cidade na data em que a festa está marcada. Depois disso, já na página do site sobre o projeto, eles pedem para que o casal interessado conte um pouco da história deles e como será o casamento.

“Assim, os e-mails que recebemos são deliciosos de detalhes e a maioria das noivas escrevem empolgadas dizendo que seria uma honra serem as representantes do estado delas no projeto. Isso é muito legal. Construímos um vínculo, uma proximidade com elas que normalmente não tínhamos aqui nos Estados Unidos. Depois seguimos para um bate-papo por Skype e pronto. Prático e emocionante no ponto certo”, explica Grasi.

A ideia com a entrevista é também buscar casamentos de personalidade, que representem bem os noivos e a cultura deles. Com esse foco, cada um dos casamentos se torna totalmente diferente do outro. “Acreditamos que essa pluralidade que deixará o projeto rico, interessante.”

E a pluralidade é a palavra perfeita para descrever tudo que o trio já registrou. Eles já viram bolo de cinco andares despencar, madrinha fazer a entrada rolando escada abaixo, noiva ter ataque de riso na hora de prometer ser fiel, padrinho que derrubou as alianças na hora de fazer a entrega, noivos que chegaram de Harley Davidson e depois cortaram o bolo com uma foice, um casamento ao ar livre em meio a uma tempestade, além de um casamento gay dentro da corte histórica onde foi assinada a liberação do casamento gay.

As histórias são muitas e, para Grasi, todos os casamentos foram muito especiais. “E o que mais amamos é justamente essa diversidade. É ter no nosso site cada álbum de cada casamento, um totalmente diferente do outro. Respeitando a forma que cada um é.”

É uma vida de aventura mesmo. Sem rotina estabelecida, os três vão dirigindo sempre na sequência do próximo casamento e parando onde acham interessante. E entre um casamento e outro, quando param para trabalhar, editar fotos e responder e-mails, o filho Otto estuda. “O Otto faz ‘Home Schooling’ pela internet e com livros, por isso paramos muito em bibliotecas públicas ou cafés.”

Com o encerramento do projeto, que deve chegar ao fim no máximo até junho de 2018, Grasi e Dani irão transformá-lo em um livro de imagens e citações sobre relacionamento. Mas eles não pretendem parar. “Já temos vários projetos e alguns convites interessantes para esse ano ainda e estamos montando a gravação de um projeto piloto em vídeo e uma nova turnê com um tema diferente. Tenho certeza que será ainda mais bonito. Tarefa difícil, mas será”, diz.

E eles pensam também em dar uma volta pelo Brasil, afinal, já são cinco anos nos Estados Unidos, mas ainda não há uma data definida para isso. “Fora minha mãe e a família do meu pai americano, toda a nossa família está lá no interior do Paraná. Sentimos muita saudade dos amigos e da família.”